quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Por que você faz cinema?

            Cinema é uma forma de arte recente, criada nos fins do século XIX, que basicamente possibilita projetar imagens em movimento. Assim, o cinema sempre foi dependente de uma tecnologia mais avançada para existir. Porém, o que assistimos hoje em grande escala é muito mais a melhoria da tecnologia ligada ao audiovisual, do que propriamente um avanço na arte de fazer cinema. Hollywood vem produzindo de forma massificada os filmes que tem como mérito os seus fabulosos efeitos especiais. Esquecem que necessitam de roteiros interessantes, de personagens bem acabados e cenas bem dirigidas.

            É óbvio que a grande parte da população é atraída pelos filmes hollywoodiamos devido à mega produções e enorme investimento em propaganda, fazendo a lavagem cerebral antes mesmo de apresentar o produto. Mas o maior problema gerado por este tipo de cinema é que desenvolve um desejo em buscar lazer que fuja completamente à realidade. Não se trata mais da vida real, das dores humanas e das questões que são ao mesmo tempo subjetivas e coletivas. Este cinema massificado de hoje, fala do herói (um indivíduo) que vai salvar toda uma sociedade, banaliza as relações amorosas em comédias românticas bobas, faz as pessoas rirem com piadas preconceituosas ou qualquer coisa estúpida, apresenta um terror que mais parece comédia, pois não tem nada a ver com os nossos medos mais íntimos, enfim não há nada que nos complemente.

Mas talvez este cinema serve pra algo sim, como minha amiga diz, este tipo de filme serve para “colocarmos o cérebro no copo”. Ou seja, é a produção de um momento vazio, que não é preciso pensar, refletir sobre si e sobre o mundo, é a alienação que se expande para além do trabalho e atinge os momentos de lazer. E assim, o capitalismo vai produzindo seus indivíduos acríticos, cultivadores de sentimentos rasos e paralisados na espera de que talvez apareça um super herói para salvá-los.

Porém, temos na história do cinema demonstrações do que de fato esta arte pode produzir para os seres humanos. Nós temos Fellini que retratou de forma belíssima as lembranças, os desejos, as fantasias, os momentos fatídicos da vida. Já Bergman praticamente fez estudos de caso sobre questões existenciais como a fé, a vida, a morte e a solidão. No Brasil, temos Glauber Rocha que fez duras críticas sociais, conseguindo deixar seus espectadores em um verdadeiro transe. Para salvar os filmes de comédia, temos o vivíssimo Woody Allen, que nos faz rir falando de coisas sérias da vida. Em fim, felizmente diante de toda a tragédia que se tornou o cinema, ainda há um bom número de diretores que trata com respeito e desenvolve esta arte.

Estes filmes são estranhos aos olhos acostumados com as produções hollywodianas, pois não há grandes explosões e outros tipos de efeitos especiais. As cenas são mais lentas, há mais diálogos ou momentos de silêncio, pois a vida é feita destas coisas. Para aproveitar estes filmes, não basta ver, tem também que sentir, identificar-se e refletir. É quase como se fosse possível experimentar algo que poderíamos ou não viver. É de certa forma, ganhar uma experiência, uma vivência e não dá pra isso acontecer sem uma “câmara mais lenta”, que mostre e possibilite a interpretação dos detalhes da vida.

Enfim, alertamos que existe um outro tipo de cinema, o qual não é tão divulgado e assistido. Propomos que todos e todas possam fazer esta experiência. Divulgamos uma lista de bons filmes que estão dentro dos critérios estabelecidos aqui. Aproveitem!

Um comentário:

  1. O mundo necessita urgentemente de seres com perspicácia, sensibilidade, inteligência e coragem assim como você que nos instiga a retirar nossos cérebros dos copos. Parabéns! Ah! Desanima não! Se seu blog não ‘bombar’ é porque é difícil desafogar os cérebros embriagados nos copos oferecidos gentilmente pelos logradores de inteligência. Continua menina, precisamos de você!

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